Em um movimento que só pode ser descrito como genial, Gerard Piqué, ex-zagueiro e ex-marido da Shakira, criou a Kings League. Ele possivelmente descobriu uma mina de ouro: um nicho de adolescentes desesperadamente à procura de sua próxima dose de dopamina.
Para quem não conhece, Kings League é uma mistura de futebol society com Mario Strikers, uma espécie de futebol jogado em um campo cinza e preto que tenta emular dinâmicas de um jogo de videogame, mas na vida real.
Em um mundo cada vez mais veloz e algoritmizado, esta é a geração que cresceu com o dedo na tela do celular, deslizando incessantemente em busca de algo mais brilhante e mais interessante. Com cada vez menos paciência, assistir um jogo de uma hora e meia de futebol pode ser tarefa tediosa para muitos. Se concentrar em algo sem mexer no celular, idem.
E é para este público que a Kings League é pensada. Com quarenta minutos de duração, gols que valem o dobro a partir de certo tempo, cartas que podem render um pênalti automático, um dado que rola para definir quantos jogadores ficarão em campo… tudo isso divulgado por streamers famosos e muito marketing.
De fato, assistir um jogo do tradicional futebol requer paciência, o jogo muitas vezes não tem lá explosões de emoções a todo minuto, mas na minha visão um 0x0 chato as vezes é necessário, e forma caráter. Será que é mesmo positivo existir uma liga esportiva baseada em gerar emoção artificial de forma desenfreada?
Vendo de fora, a Kings League não parece uma competição esportiva, mas sim um circo dos horrores. Jogada em uma paleta de cores escura, projetada para explorar a pior das compulsões da geração atual: a necessidade desesperada de estímulos instantâneos, a busca frenética por dopamina. Um espetáculo grotesco que troca a profundidade do esporte pela superficialidade do entretenimento a qualquer custo.
A geração que cresceu com o dedo no scroll infinito das redes sociais encontrou aqui o seu lar, um futebol que não exige paciência, que não requer compreensão de tática, mas apenas a capacidade de reagir a cada nova bizarrice com um “uau”. É o esporte reduzido a clipes de TikTok, onde a narrativa do jogo é substituída por momentos virais e a essência do esporte é esquecida em nome do engajamento rápido.
É como se estivéssemos assistindo ao futebol se prostituir, vendendo sua identidade por likes. A Kings League não é um avanço, é um sintoma de uma sociedade que trocou a profundidade pelo reles deslizar de dedo em um vídeo curto, a paixão pelo esporte pela euforia do viral. Uma paródia bizarra do futebol society.


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