O que o Festival de Parintins, a Fórmula 1 e a Copa do Nordeste tem em comum? Todos estes eventos foram anunciados que teriam transmissão pelo Grupo Globo, e nunca chegaram a ser exibidos por nenhum canal do grupo.
Em um recorte temporal de menos de um ano, a Globo anunciou publicamente a compra de três eventos que nunca se concretizaram.
A emissora que por décadas foi sinônimo de credibilidade, parece ter esquecido o seu “Q de Qualidade” em um passado distante, atualmente a palavra da emissora parece valer menos que título da Taça Guanabara, troféu simbólico que premia o melhor time da primeira fase do Campeonato Carioca.
O caso do Festival de Parintins: promessa vazia
Em abril, a Globo surpreendeu ao anunciar a aquisição dos direitos do Festival de Parintins, um dos eventos culturais mais tradicionais do Brasil. A promessa era de transmissão nacional do espetáculo dos bois Garantido e Caprichoso pelo canal Multishow e pelo Globoplay.
No entanto, o que se seguiu foi um espetáculo de desorganização e falta de transparência.
A TV A Crítica, do Amazonas, já tinha contrato de exclusividade para exibir o evento, o que deixou claro que a Globo sequer fez a lição de casa antes de seu anúncio. Resultado: o evento foi transmitido exclusivamente pela concorrente local, e o público de outros estados ficou a ver navios.
A “Fórmula” para a vergonha
Em outubro, durante o Upfront da Globo — uma apresentação das novidades para o mercado publicitário —, a emissora levou um carro de Fórmula 1 ao palco, acompanhado de um provocativo “Será?” exibido no telão. Para muitos, a mensagem era clara: a Fórmula 1 estaria voltando à Globo. Dias depois, no entanto, ficou evidente que a emissora não tinha garantido os direitos de transmissão.
A Band, que já detém o contrato com a Liberty Media, disse que vai cumprir o acordo com a Fórmula 1 até o final de 2025, frustrando os planos da Globo e fazendo com que o “Será?” virasse motivo de piada, especialmente após o narrador da Band, Sérgio Maurício, ironizar a situação durante o GP de São Paulo, quando anunciou a permanência da categoria no canal dizendo: “Fórmula 1, em 2025, SERÁ aqui na Band”.
Os fãs mais fervorosos da emissora juram que o “Será?” no Upfront não foi um anúncio oficial, e de fato, eles tem certa razão. Mas deixa claro que a emissora foi, no mínimo, precipitada ao querer fazer gracinha no mercado antes de concretizar o contrato.
A Copa do Nordeste e o desprezo pelo assinante do Premiere
Em dezembro de 2024, a Globo deu mais um passo em falso. A emissora anunciou que havia adquirido os direitos da Copa do Nordeste para transmissão no Premiere, seu canal de pay-per-view. No entanto, faltando um dia para o início da competição, veio a bomba: o contrato foi desfeito devido a problemas entre a produtora do evento e a CBF. A emissora, que já sabia do impasse desde dezembro, optou por informar o público apenas na véspera do torneio, causando revolta nos assinantes que esperavam acompanhar os jogos.
Para piorar, a situação prejudicou outras plataformas que também tinham os direitos de transmissão, como o DAZN e o Nosso Futebol. O impasse levou a uma completa desorganização na cobertura do evento, com sete dos oito jogos da fase preliminar ficando sem transmissão (apenas Santa Cruz 1×2 Treze teve exibição, por conta do SBT Nordeste, que detém os direitos de TV aberta).
Um padrão preocupante
O que une esses três casos é um padrão preocupante de amadorismo e desrespeito ao público. Seja por falta de planejamento, excesso de autoconfiança ou negligência, a Globo tem repetidamente criado expectativas que não consegue atender. Embora o caso da Copa do Nordeste tenha nuances diferentes, o efeito final é o mesmo: o telespectador se sente enganado.
Em um mercado de mídia cada vez mais competitivo, onde o público tem múltiplas opções de entretenimento, a credibilidade é um ativo essencial. Ao cometer erros tão grosseiros e frequentes, a Globo coloca em risco sua imagem e sua relação com o público. Se continuar nesse caminho, a emissora pode descobrir da pior maneira que a paciência do telespectador não é infinita.
A Globo precisa voltar a ser a emissora que promete e cumpre, não a que ilude e depois se desculpa. Porque, no fim do dia, o telespectador não quer ser o palhaço do circo.


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